Nós somos animais quiméricos, seres mitológicos moldados pelas tempestades internas, deformados pela dor bem como pelo prazer, bichos em metamorfose contínua. Anamorfoses digitais são criadas explorando o peculiar mecanismo de restituição fotográfica em movimento do scanner e devolvem uma imagem aparentemente hiper-realista por transpor o nível do paradigma da verossimilhança e invadir o terreno do surreal. Hoje em dia, o artista nem quer e nem pode mais fornecer uma rota de fuga
ao fornecer uma solução de recomposição dos contornos do sujeito deformado; não tem cálculos com os quais possa ser obtida novamente uma imagem precisa e científica, como num desenho renascentista através de uma superfície refletora ou se-posicionando num ponto definido do espaço, do sujeito perdido. A possibilidade depende apenas das capacidades da nossa
"mente espelho” de reconstruir uma forma tanto quanto plausível, unitária, coerente, responsável, -nunca matematicamente fixa e perfeita- do outro. A exposição pretende que o público se identifique entres pessoas em mudança perpetua, que vão continuamente incorporando e atuando as deformações causadas das suas próprias emoções. Logo, pressupõe-se uma predisposição psico-física, uma postura da mente que também é fisiológica e que implica o desenvolvimento dos "neurônios empáticos". Um treinamento que aponta a capacidade de reproduzir gestos, mas, principalmente, de desenvolver a observação aberta e acolhedora.