| por Caê Vieira |
As classificações vocais começaram a se delinear na Idade Média não como tipos de vozes mas como diferentes linhas musicais em peças com duas ou mais vozes. O repertório predominante de então era o canto homofônico da Igreja. Foi para registrar esse complexo e amplo repertório que se desenvolveram as formas rudimentares de notação musical conhecidas como escrita neumática. Nela, já era aparente uma associação entre as notas musicais e o espaço vertical na folha de papel ou pergaminho: notas agudas vão para cima e notas mais graves, para baixo.
A partir do século XI, com o advento de composições polifônicas, tais linhas eram dispostas seguindo o mesmo princípio: vozes mais agudas eram colocadas acima das vozes mais graves. A voz principal dessas composições polifônicas era chamada de Tenor que, em latim, significa “sustentar”. A voz que foi colocada acima, foi batizada Altus e, consequentemente, aquela que foi incluída como parte mais grave, Bassus. Com o tempo, chegou-se a uma estrutura com 4 ou mais vozes nas quais a voz mais aguda era nomeada Superius ou Soprano (sopra, em italiano, significa “sobre”). O desenvolvimento das caracterísitcas específicas de cada voz só se iniciaria no séc. XVII. A partir de então, duas adições seriam feitas: mezzo-soprano e barítono.
O barítono (“som pesado” em latim) é uma voz média que alcança agudos próximos aos do tenor e graves na região do baixo, mas cuja principal área de ressonância está na parte média da tessitura vocal. Apesar de existirem referências desde o séc. XV, é só no classicismo que o repertório para esse naipe ganha relevância. Mozart criou os primeiros papéis emblemáticos para barítonos. A seguir, tornamo-nos vilões ou coadjuvantes durante o período do bel canto. Finalmente, a partir do séc. XIX, passamos a ser explorados em toda a gama de possibilidades que nosso instrumento proporciona e nos tornamos personagens principais em diversas óperas como Rigoletto de Verdi, O Holandês Voador de Wagner ou Wozzeck de Berg.
Caê Vieira é um barítono, agenciado pela Aranhas, com técnica impecável, grande expressividade interpretativa, e uma presença de palco carismática e nobre. Ele se dedica à ópera e à música de câmara com um repertório que vai desde a idade média até a música contemporânea.